Tuesday, July 18, 2017

AUTO-RETRATO ESCRITO (Como se pudesse ser um Manoel de Barros)


Venho de Fortaleza cidade de praias e de ruas pedregosas.
Meu pai teve um supermercado e vendeu caixas registradoras até na Visconde do Rio Branco, onde nasci.
Me criei na Rocha Lima entre cachorros, gatos, sanhaçus, canários belgas, pau brasil, pés de graviola, ciriguelas, pessoas humildes, e o rio Pajéu onde molhava os pés.
Aprecio viver em lugares distantes, como Rondônia, por gosto de estar
entre árvores, águas, pedras e bichos.
Já publiquei alguns livros de poesia: ao publicá-los me sinto
quase feliz e fujo para qualquer canto onde sou
capaz de pensar que alguma coisa fiz.
Nunca me procurei durante a vida inteira, pois, sabia que não me acharia- e não gosto de perder tempo sem motivo nenhum.
Não estou numa pocilga porque nunca criei porcos, galinhas, nem patos nem bois.
Nem qualquer tipo de planta ou animal. 
Agora eu sou tão antigo quanto antes!
Não costumo sofrer de nenhum tipo de sofrimento moral porque sempre fiz  coisas inúteis.
O meu morrer tem uma certa dor de repetição, de chuva fina
é um morrer de garoa, de neblina;
de quem vai embora sem querer. 
E vou morrer incompleto 
Como meu auto-retrato. 

Ilustração: VÍRUS DA ARTE & CIA.

No comments: