Friday, October 16, 2015

E, mais uma vez, a poesia de Benedetti

Ángelus                                                                             

Mario Benedetti

Quién me iba a decir que el destino era esto

Ver la lluvia a través de letras invertidas,
Un paredón con manchas que parecen prohombres,
El techo de los ómnibus brillantes como peces
Y esa melancolía que impregna las bocinas.

Aquí no hay cielo,
Aquí no hay horizonte.

Hay una mesa grande para todos los brazos
Y una silla que gira cuando quiero escaparme.
Otro día se acaba y el destino era esto.

Es raro que uno tenga tiempo de verse triste:
Siempre suena una orden, un teléfono, un timbre,
Y claro, está prohibido llorar sobre los libros
Porque no queda bien que la tinta se corra.


Angelus

Quem me iria dizer que o destino fosse este

Ver a chuva através de letras invertidas,
Uma parede com manchas que se parecem com notáveis,
O teto dos ônibus como peixes brilhantes
E esta melancolia que impregna os alto-falantes.

Aqui não há céu,
Aqui não há horizonte.

Há uma grande mesa para todos os braços
E uma cadeira que gira quando quero escapar.
Outro dia se acaba e o destino era este.

É raro que alguém tenha tempo para ficar triste:
Sempre soa uma ordem, um telefone, uma campainha,
E, claro, está proibido chorar sobre os livros
Porque não fica bem ver a tinta escorrer.


Ilustração: www.pinceladas-fms.com.br

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