Saturday, January 10, 2015

Uma poesia de Gema Santamaría

sala de espera                                                               

Gema Santamaría

tengo más de cien razones para no amarte
y una sola sin razón para morir por ti.


tengo todo mi equipaje y, sin embargo, me siento desarropada y con la soledad revuelta.

soy una gitana que ha extraviado su bola de cristal y su carruaje.
todos los relámpagos sobre este viaje solitario.

aquí estoy de nuevo, con el alma deshilada y el corazón hecho una cáscara de sangre.
tengo mis zapatos andaderos, unos pantalones sucios
y un abrigo que no reúne los botones suficientes para cubrirme de este frío.

he dejado atrás mis verdaderas pertenencias : el sobresalto de mi pecho, la pasión a tientas de mis dedos  y unas cuantas, encarecidas certezas.

es otra la mujer que regresa, amarilla y cabizbaja. con las costuras de la piel mirando hacia fuera, como deben llevarse las prendas para no atraer malos presagios.

tengo toda la tristeza reunida en estos ojos ciegos y severos, como mamíferos de agua dulce. todas tus batallas y tus muertes bañándome en la sábana púrpura donde se reinventan los milagros de las iglesias.

tengo todo mi equipaje y, sin embargo, no logro volver a esa mujer sedimentaria que abre sus ojos en la página segunda del pasaporte. es otra mujer la que regresa; tijereteada, devuelta en un rompecabezas.

sin ti he perdido mi centro y he olvidado para siempre mi periferia.

Sala de espera

Tenho mais de cem razões para não amar-te
e só uma razão para morrer por ti.


Tenho toda a minha bagagem e, no entanto, me sinto despreparada e com uma solidão revoltada.

Sou uma cigana que perdeu sua bola de cristal e sua carruagem.
todos os relâmpago sobre esta viagem solitária.

Estou aqui de novo, com a alma desfiada e o coração feito uma concha feita de sangue.
Tenho meus sapatos de andarilho, umas calças sujas
e um casaco que não tem botões suficientes para me cobrir do frio.

Deixei para trás meus verdadeiros pertences: o sobressalto do meu peito, a paixão tateando por meus dedos e algumas queridas certezas.

é outra a mulher que retorna, amarela e cabisbaixa. com as costuras da pele olhando para fora, como deve levar-se as vestes para evitar atrair maus presságios.

Tenho toda a tristeza reunida neste olhos cegos e severos, como mamíferos de água doce. todas as suas batalhas e suas mortes banhando-se na folha roxa onde se reiventam os milagres das igrejas.

Tenho toda a minha bagagem e, sem embargo, não consigo voltar  aquela mulher sedimentada  que abre os seus olhos na segunda página do passaporte. é uma outra mulher que retorna; retalhada, devolvida num quebra-cabeça.

sem ti eu perdi meu centro e fui esquecida para sempre a minha periferia.


Ilustração: http://economia.uol.com/

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