Saturday, March 29, 2014

O poeta Roque Dalton


Y sin embargo, amor

Roque Dalton

    Y sin embargo, amor, a través de las lágrimas,
yo sabía que al fin iba a quedarme
desnudo en la ribera de la risa.

    Aquí,
hoy,
digo:
siempre recordaré tu desnudez en mis manos,
tu olor a disfrutada madera de sándalo
clavada junto al sol de la mañana;
tu risa de muchacha,
o de arroyo,
o de pájaro;
tus manos largas y amantes
como un lirio traidor a sus antiguos colores;
tu voz,
tus ojos,
lo de abarcable en ti que entre mis pasos
pensaba sostener con las palabras.

    Pero ya no habrá tiempo de llorar.

    Ha terminado
la hora de la ceniza para mi corazón.

Hace frío sin ti,
pero se vive.

Ainda te amo

    E, sem embargo, amor, em meio as lágrimas,
eu sabia que, ao fim, estava indo ficar
despido às margens do riso.

     Aqui
hoje,
digo:
sempre lembrarei tua nudez em minhas mãos,
teu cheiro de desfrutada madeira de sândalo
cravado pelo sol da manhã;
teu riso de mulher,
de igarapés,
ou de pássaros;
tuas mãos longas,  quentes e amantes
como um lírio traidor de suas antigas cores;
tua voz,
teus olhos,
o que abarcava em ti que, entre meus passos,
pensava sustentar com as palavras.

     Porém, já não há tempo para chorar.

   Já terminou
a hora das cinzas para o meu coração.

Faz frio sem ti,  
porém, se vive.


Ilustração: bdforevers2.tumblr.com 

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