Sunday, June 30, 2013

Gastón Baquero


SONETO PARA NO MORIRME

Gastón Baquero

Escribiré un soneto que le oponga a mi muerte
un muro construido de tan recia manera,
que pasará lo débil y pasará lo fuerte
y quedará mi nombre igual que si viviera.

Como un niño que rueda de una alta escalera
descenderá mi cuerpo al seno de la muerte.
Mi cuerpo, no mi nombre; mi esencia verdadera
se inscrustará en el muro de mi soneto fuerte…

De súbito comprendo que ni ahora ni luego
arrancaré mi nombre al merecido olvido.
Yo no podré librarle de las garras del fuego,

no podré levantarle del polvo en que ha caído.
No he de ser otra cosa que un sofocado ruego,
un soneto inservible y un muro destruido.

De El álamo rojo en la ventana (1935-1942)

Soneto para não morrer

Escrever um soneto que se oponha a minha morte
um muro construído de forma tão resistente,
que passará o débil e passará o forte
e ficará meu nome como se vivesse.

Como uma criança que rola de uma alta escada
descerá o meu corpo para o seio da morte.
Meu corpo, não meu nome, minha essência verdadeira
se inscrustará no muro do meu soneto forte ...

De repente, compreendo que agora nem logo
arrancarei meu nome do esquecimento merecido.
Eu não poderer salvá-lo das garras do fogo,

Eu não poderei levantar poeira que há caído.
Não há de outra coisa senão um sufocado rogo,
um soneto inservível e um muro destruido.

De “O álamo vermelho na janela” (1935-1942)

Ilustração: www.poesiagalvaneana.com.br 

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