Friday, April 06, 2012

Conto como quem conta um conto


Sei, por conta própria,
Que vocês jamais acreditarão em mim,
Mas, trata-se da mais pura verdade,
Que, hoje, só conto por causa da idade
De vez que, quando se fica velho,
Pode-se dizer qualquer coisa que é explicável.
Todavia, a verdade verdadeira, notável
É que, assim como Che Guevara já esteve em Porto Velho,
Também, em priscas eras,esta terra viu de férias
O grande poeta mexicano Octávio Paz.
Aqui chegou, e esteve oculto, por meados dos anos oitenta
Segundo dizia –rindo- para descansar.
E, se testemunhas há, além de mim
São vazias garrafas de Côtes du Rhône partilhadas
Em imensas, longas e doces noitadas
Que incluíram o Araribóia, de saudosa memória,
E a Taba do Cacique que, em noite de glória,
O viu recitar, com risos e confidências,
Que amores bons requerem indecências
Assim como comida mexicana, pimenta.
É possível que tal semana não haja existido,
Porém, me lembro que fez questão
Também de andar de trem
E me disse sem pestanejar;
-Como nunca escreverei sobre estes dias-
Meus pecados não sou de confessar-
Um dia até mesmo tu hás de duvidar
Que estive aqui nestas orgias
E, com a suavidade com que sempre sorria,
Suavemente me disse adeus soletrando:
-Duvidar é não ter crenças absolutas.
É flertar com todos como as boas...

Caricatura: Waldo Matus

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