Sunday, May 17, 2009

DOMINGO




Calmo domingo de calor poético
Onde a chuva, inóspita e inoportuna,
Faltou a todo e qualquer dever ético
Caindo generosa, aleatória qual a fortuna.

Domingo calmo teu calor sumiu.
Ficou a dança sonora de mil gotas
Num velho palco de zinco que resistiu
Ao assédio das ferrugens tão marôtas.

Calmo domingo onde está tua calma?
Se tens de tudo, bebida, poesia,
Um velho bandolim num choro de alma
Gemendo em notas um drama de agonia.

Domingo calmo o sol já se apaga
Mesmo entre nuvens densas diz adeus.
O tempo, meu amigo, a tudo traga:
Teus minutos, tuas horas, os dias meus!

De Apocalypse, 1982

No comments: