Saturday, April 08, 2006

UM POETA BOLIVIANO

CALÍGULA

Oscar Cerruto

Es la hora que más odias,
cuando la tarde cae
como si se desplomara del tejado.
Lobregueces rastreras
corren bajo tus pies y sientes
que eso que pasa enfriándote la cara
no es el viento.
Comienzas a oír voces
que nadie más oye.
Crees ver centuriones
de niebla entre la niebla,
manos que flotan,
lenguas arrancadas,
y disolverse en la noche
la tediosa muralla que te aísla.
Tu sombra acobardada te precede
por los polvorientos salones del palacio.
Y llegas a tu lecho en los hostiles dormitorios
sabiendo que allí sólo te aguardans
ueños enemigos.
Sueños con dientes sin fatiga,
puntuales, pertinaces
como la oscura rata que noche a noche
roe en las tablas del piso.

Calígula
É a hora que mais você odeia,
O cair da tarde
Que se destelha como um telhado.
Lentamente, rastejando
a escuridão se instala sob seus pés e você sente
que o que esfria seu rosto, de passagem,
não é o vento.
Começas a ouvir vozes
que ninguém mais ouve.
Começas a ver centuriões de névoa entre as névoas,
mãos que flutuam,
línguas arrancadas, e a dissolver-se na noite
a muralha que te isolava.
Tua sombra temerosa te precede
pelos salões poeirentos do palácio.
E chegas ao teu leito
Em dormitórios hostis
sabendo que ali somente te aguardam
sonhos inimigos.
Sonhos com dentes sem fadiga,
precisos, persistentes
como o preto rato que, noite após noite,
rói as tabuas do assoalho.

1 comment:

Lia Noronha said...

Silvio: que maravilhosa poesia...traduzindo o desespero do enfrentamento consigo mesmo...no silêncio da noite! Sua tradução está excelente!
Boa noite de segunda-feira.
Beijos carinhosos.